quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Palavra que desnudo




Entre a asa e o voo
nos trocámos
como a doçura e o fruto
nos unimos
num mesmo corpo de cinza
nos consumimos
e por isso
quando te recordo
percorro a imperceptível
fronteira do meu corpo
e sangro
nos teus flancos doloridos
Tu és o encoberto lado
da palavra que desnudo


                Abril 1981


(COUTO, Mia. Raiz de orvalho e outros poemas. 2. ed. Lisboa: Caminho, 1999, p. 17)

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