quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Sementeira




O poeta
faz agricultura às avessas:
numa única semente
planta a terra inteira.


Com lâmina de enxada
a palavra fere o tempo:
decepa o cordão umbilical
do que pode ser um chão nascente.


No final da lavoura
o poeta não tem conta para fechar:
ele só possui
o que não se pode colher.


Afinal,
não era a palavra que lhe faltava.


Era a vida que ele, nele, desconhecia.


(COUTO, Mia. Tradutor de chuvas. 1. ed. Lisboa: Caminho, 2011, p. 71)

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